1. Para começarmos, eis a pergunta que se impõe, como é que nasceu o gosto pela escrita?

Desde que aprendi a ler e a escrever nunca mais larguei os livros e os cadernos. Desde os dez anos que escrevo, comecei com um diário pessoal e nunca parei de escrever. Penso que o que me faz escrever é o facto de eu ser uma pessoa introvertida e muito reservada e a escrita é a forma que eu encontrei de expressar o que me vai na alma e que por vezes, não consigo verbalizar. Tem sido uma catarse, uma espécie de terapia para mim. Quando escrevo, não tenho máscaras, sou apenas eu, sem qualquer filtro.

2. Sabemos que exerce funções como Assistente Social na Câmara Municipal da Amadora.Ainda assim, e apesar de áreas tão distintas, estas áreas cruzam-se em algum momento com a escrita? Isto é, a sua atividade profissional exerce alguma influência sobre o seu trabalho literário?

Claro que sim. Exerço esta atividade há mais de 20 anos e tudo o que aprendi se reflete na pessoa que eu sou e por consequência, na minha escrita. O trabalho do serviço social e da política social são muitos integradores dos princípios e valores mais dignificantes do ser humano e a minha experiência de trabalho só me valorizou e me permitiu ver mais além, ser mais empática, mais resiliente, mais sensível, mais atenta e mais focada. Tudo isso está presente na minha escrita, sem dúvida.

3. Há a tendência para se acreditar que um escritor escreve sobre si, o que, na maioria das vezes, não é verdade, portanto, eis a questão: a sua escrita é meramente ficcional ou de algum modo inspirada nas suas vivências, ou naqueles que a rodeiam?

Digamos que é um 50/50. Muitas coisas são inspiradas em mim, na minha vida, nos meus sentimentos e experiências pessoais, mas também há coisas que vi e ouvi de outras pessoas ou coisas que imaginei. Nem tudo é literal na minha escrita. No entanto, neste livro em específico, grande parte do que lá está é baseada em vivências e sentimentos pessoais.

4. Uma Espécie de Noite é o seu terceiro livro. Como surgiu o ímpeto de escrever este livro e de o partilhar com o público?

Como já referi, eu nunca paro de escrever, por isso desde o 2015 (que foi ano de lançamento do “Casa Incendiada”), eu já tinha muito material escrito e, que na minha cabeça, já era um livro quase pronto. Por acaso, encontrei nas redes sociais um concurso da editora Cordel D’ Prata que pedia originais de poesia e concorri. Apesar de não ter ganho, a editora contatou-me com interesse em editar o meu livro e…. cá estamos! E foi na altura certa, porque já tinham passado 7 anos desde a minha última edição, por isso fez todo o sentido partilhar este livro com o público nesta fase.

5. E o processo de escrita desta obra, como correu? Pode partilhar connosco um pouco sobre essa experiência?

Eu não tenho propriamente um processo. Sou muitas vezes impelida a escrever coisas que me surgem do nada e que tenho de registar naquele momento, mas neste livro também existem poemas que começaram a ser construídos em aulas de escrita criativa, por exemplo. O que aconteceu foi que peguei em tudo o que já tinha escrito, fiz uma selecção, juntei e ajustei tudo o que me fez sentido, até se transformar neste livro.

6. Quais são os seus projetos para o futuro? Os leitores poderão contar com novas obras e dentro do mesmo registo ou prepara algum desafio?

Para já ainda estou muito focada neste livro, na sua divulgação e promoção. A sessão de apresentação vai ser realizada em Abril, pelo que tenho estado a preparar-me para esse evento. No entanto, estou já a trabalhar numa ideia para um próximo livro que desta vez não será de poesia, mas sim de pequenos contos, o que claramente será um novo desafio para mim. Mas continuo sempre a escrever poesia… 

7. Qual a mensagem que gostaria de partilhar com quem nos está a ler?

Quero acima de tudo, deixar uma mensagem de agradecimento pelo interesse pela literatura, pela poesia, pela leitura em geral e também pelo apoio que dão a autores desconhecidos como eu. Isso é fundamental nos dias que correm, onde tudo se lê online e os livros perderam um pouco o protagonismo. Ao contrário do que muita gente pensa, a poesia não é um estilo literário elitista, apenas para intelectuais, a poesia é para todos e todos podem encontrar nela conforto, beleza e prazer. Continuem a ler poesia… e todos os outros estilos também! Um bem-haja a todos!