Josuã, sê bem-vindo a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como é que te iniciaste na escrita? 
Agradeço pela oportunidade, é uma enorme honra poder falar um pouco sobre o meu trabalho. Bem, comecei a escrever com onze anos ou um pouco menos, como uma forma de expor o que eu não conseguia falar usando o poder da minha voz, fosse por medo ou timidez. Comecei escrevendo música, colocando minhas verdades e angústias para fora dessa forma, depois disso, passei a escrever textos, que guardava apenas para mim, até ao dia em que decidi levá-los a público, foi quando criei um blog, ao qual me dediquei imenso, e me trouxe muitas alegrias na época. 
Infelizmente, esse blog não existe mais, por conta de um período em que eu simplesmente perdi o interesse em escrever. Após esse hiato de alguns anos, passei a escrever quase todos os dias, em qualquer lugar, no autocarro, caminhando, em uma festa. Me inspirava em qualquer coisa, e foram esses textos que me levaram até a publicação do meu primeiro livro, e desde então não parei mais, e hoje estou aqui.

São inúmeros os sentimentos que nascem no âmago do escritor. Quais aqueles com que mais te identificas?
Dor. Prazer. Saudade. Esperança. Amor.

O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa?
A escrita basicamente me mudou por inteiro como pessoa, mas mudou principalmente a minha forma de enxergar o mundo, que agora eu vejo com olhos diferentes, mais aguçados, que encontram beleza e inspiração em tudo, em cada detalhe. Mudou muito também minha forma de agir com o próximo, de pensar sobre mim, sobre a vida, sobre o mundo, e transformou aquele garoto tímido, com receio de abrir a boca, de se expor, em alguém com um pouco menos de medo das reações em relação ao que pensa e tem a dizer. 
Vem me transformando em alguém que eu sempre quis ser, em quem eu realmente quero me tornar como pessoa.

E enquanto escritor, o que tens aprendido?
Principalmente a escrever. Venho escrevendo como nunca, sobre tudo, sobre qualquer gênero e tema,  e quanto mais eu escrevo, mais eu enxergo o poder de cura, de mudança que a escrita tem não só na minha vida, mas na vida dos leitores. Existem as palavras certas e as palavras erradas, e ambas têm o
mesmo poder de mudar um pensamento, e consequentemente mudar o mundo, por isso, como escritor, é preciso sempre ter cuidado para nunca cruzar essa linha, e tentar sempre manter-se dentro do que é considerado bom, do que não faz mal, pois os leitores são alvos das nossas palavras, e o impacto deve sempre ser positivo. 

Como definirias a escrita na tua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso?
Com toda certeza é uma necessidade. Acho que quase todo escritor deve dizer que a escrita é uma necessidade, mas não porque é a resposta mais fácil, e sim porque é a verdade. Não consigo acreditar que alguma boa escrita possa sair de algo que não seja primariamente de uma necessidade criada lá atrás. Um amigo meu me disse uma vez, que os escritores escrevem não porque gostam, mas porque eles amam ter escrito, e acho que existe muita verdade nisso, pois não existe glamour em escrever, e se existe não está certo, pois geralmente não é algo fácil, por vezes é desgastante, cansativo, decepcionante, e o que realmente motiva é o que já escrevemos, e o que ainda podemos escrever.

Começaste por escrever música quando tinhas apenas onze anos. O que despertou em ti o interesse pela escrita?
A necessidade de colocar para fora o que eu estava cansado de guardar só para mim. É pesado e sufocante demais, mesmo quando novo, guardar certas coisas, certas decepções com pessoas que não deveríamos nos decepcionar. A escrita atualmente vem sendo usada como uma forma de terapia alternativa até mesmo por psicólogos, porque realmente tem um efeito tão libertador e de cura, quanto conversar. 

Apesar de teres estudado Gastronomia e Psicologia, acabaste por não te formar, estas áreas, no entanto, têm alguma influência na tua escrita?
Sim, principalmente a psicologia. Ainda pretendo me formar em psicologia, assim como nunca abandonar a gastronomia, e sempre aprender mais e mais, mas a psicologia tem um grande papel na minha escrita, pois venho tentando colocar ela em meus textos e atualmente nas minhas histórias, mas de certa forma ela sempre esteve presente. A psicologia tem um poder enorme, é capaz de mudar o rumo de uma vida, e é preciso levá-la de todas as formas a quem precisa, e nós todos precisamos. 
Ninguém é puro, livre de traumas, de decepções, somos humanos, e como bons humanos somos errantes por natureza.

Publicaste o teu primeiro livro, Cinzas da Alma, em 2016. Como correu essa experiência?
Foi uma experiência incrível, mas bastante aterrorizante também. A melhor parte foi o e-mail com o aceite da editora em relação ao original, e também o feedback dos leitores. Mas o dia do lançamento foi aterrorizante, pois sabia que estava prestes a deixar minhas palavras, meus pensamentos livres ao mundo, para quem quisesse ler, e isso é um pouco assustador num primeiro momento. Mas foi graças a esse primeiro livro que cheguei aqui hoje, prestes a lançar meu segundo livro em formato físico, e agora muito longe do meu país de origem. 

Em 2019 deixaste o teu país de origem e viajaste para Portugal, onde resides atualmente. De que forma esta experiência tem enriquecido a tua escrita?
Minha escrita foi afetada desde o momento que pensei em vir para cá, pois sabia que aqui existia uma aceitação muito maior do que no Brasil em relação a novos autores, e isso por si só já me fez querer escrever mais, e me dedicar em aprender mais sobre a arte da escrita. Desde então, tive muitas experiências diferentes, boas e ruins que me inspiraram a escrever em outras linhas, de outras formas, e com um português diferente também. Portanto, sim, tem enriquecido demais a minha escrita, e tenho certeza de que vai enriquecer ainda mais, e que vou chegar ainda mais longe de onde já estou.

Escreves regularmente, alguns contos, inclusive, que publicas na Amazon, em nome próprio e sob pseudónimo. O que te levou a enveredar por este universo?
Acho que a necessidade de levar minha escrita ainda mais longe. Eu escrevo a todo momento, todo santo dia, seja no metro, no autocarro, caminhando, cozinhando, e por conta disso tenho acumulado uma grande quantidade de material que não queria deixar guardado, nem depender de terceiros para publicá-los, portanto estou publicando como posso, de forma física, online, em e-book. 
E a verdade é que só tem me trazido coisas boas, pois tenho conseguido ter um controle muito maior sobre o meu trabalho e sobre onde ele pode chegar. Com meu último conto consegui atingir leitores da Índia, EUA, México, Inglaterra, Brasil, alcance esse que é mais fácil de atingir de forma independente, através destes novos canais a disposição de nós escritores.

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Preparas agora a publicação de Aurora. Podes falar-nos um pouco desse novo projeto?
É um livro que eu tinha na gaveta há algum tempo, e que certo dia, aqui em Portugal, decidi reformular, pois achei que já estava na hora dele ganhar vida. Ele teve inúmeras faces até chegar ao que é hoje, que é um livro de pequenos contos, textos intensos, contados por uma personagem que irá servir para acompanhar o leitor, e ser um ombro para chorar, se necessário. É um livro que vem com uma companhia de brinde, para sofrer junto ao passar as páginas, e para se curar na última delas. É um livro intenso, e a verdade é que não é para qualquer pessoa. É como um psicólogo, é preciso estar preparado, é preciso querer enfrentá-lo.

Como achas que será a reação dos leitores face a este trabalho?
Acredito que será bastante positiva, pois raramente avalio bem meus trabalhos, sofro bastante com a síndrome do impostor, mas no caso do Aurora, tive uma impressão diferente, gostei bastante do que escrevi, portanto. Mas também sei que será um livro do tipo amor e ódio, alguns irão amar, outros irão odiar. Não porque seja ruim, mas porque é um livro cru, pesado, deprimente em muitos pontos, e realmente não são todos os leitores que têm estômago para enfrentar esse tipo de livro. Mas aconselho-os a darem uma chance, pois garanto que ao final da última página, terá valido a pena, e no fim, qualquer lágrima dará lugar a um sorriso.

Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?
Sou um grande fã de John Fante, Bukowski, Hemingway, e poderia muito bem escolher algum livro desses autores, mas a verdade é que se eu pudesse escolher apenas um, seria “ As fúrias Invisíveis do Coração”, do John Boyne, pois é um dos melhores livros que li até hoje. É bonito, real, impactante, tem tudo de melhor que um livro precisa ter, e é um livro que eu gostaria de ler até o final dos meus dias, certamente.

Se tivesses de escrever num género diferente, a qual desafio te proporias?
Terror. É um gênero que escrevo desde sempre, meus primeiros contos foram de terror. Sou incrivelmente fã do Stephen King, que para mim é o maior escritor do gênero, pois ele consegue  atingir o leitor de uma forma que poucos escritores conseguem. Se eu ainda não enveredei por essa linha, é porque não quero competir com alguém tão grande, alguém que eu sei, nunca serei capaz de chegar aos pés. Prefiro me manter onde me sinto confortável, falando sobre o que eu entendo melhor.

Continuas a escrever e queres publicar, portanto, o que podem esperar os leitores para o futuro?
Muito material inédito, e uma escrita e histórias cada vez melhores, com um impacto muito maior. Seja em formato e-book, ou de forma física. Tenho uma quantidade absurda de material inédito guardado no drive, que está maturando, e a verdade é que irei publicar tudo isso ao longo do tempo, assim que eu acreditar que é a hora certa. Também não pretendo parar de escrever, a escrita faz parte de mim, da minha vida, a tendência é que eu escreva cada vez mais e mais.  

Descreve-te numa palavra:
Ansioso.