Leandro, sê bem-vindo a este espaço. É um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como é que te iniciaste na escrita?
Antes de mais aproveito para demonstrar o meu apreço pelo trabalho meritório que a Oficina da Escrita realiza, ao promover autores e respetivas obras. Quanto à questão colocada, devo dizer que iniciei-me na escrita há muito tempo a esta parte. Percebi ainda em adolescente que a poesia era uma forma de expressão literária que me permitia transmitir o pensamento, sendo que mais tarde compreendi com base na minha formação académica que ao criar poemas realizava a catarse tão necessária para me equilibrar mentalmente. Foi já em adulto, no entanto, que comecei a publicar a minha poesia de forma oficial, nomeadamente em alguns jornais, revistas e antologias. Em 2015 publiquei a minha primeira obra através da Chiado Books cujo nome é “Viagem ao Âmago” e em 2019 a segunda obra através da Emporium Editora cujo nome é “Um livro para morar”.
Qual o sentimento que te domina quando escreves?
Talvez não tenha uma resposta axiomática para dar, até porque eu escrevo através de epifanias, portanto de forma inesperada surge na minha mente um poema e eu tenho imediatamente de o registar, esteja quase a dormir; se estiver a conduzir paro o carro para o efetuar; posso estar a falar com alguém; a contemplar uma paisagem; uma obra de arte ou somente a ler um livro.
O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa?
A escrita deu-me a possibilidade de poder iniciar o processo infindável do autoconhecimento, sendo assim aprendi cedo a enfrentar os meus demónios, sempre tendo o cuidado de não me tornar um deles, bem como a relativizar a minha existência dentro do espetro cosmológico. Na minha ótica e também na perspetiva de muitos pensadores seculares tais como Sun Tzu e Sócrates, o autoconhecimento é essencial para nos podermos posicionar perante o mundo.
E enquanto escritor, o que tens aprendido?
Em boa verdade, compreendo que não podemos dissociar o escritor do seu posicionamento gnosiológico, ou seja, como disse Fernando Birri, muitas vezes citado pelo falecido Eduardo Galeano, “a utopia serve para que eu não deixe de caminhar”, portanto a minha automotivação prende-se com a possibilidade de vir a conseguir-me tornar num polímata para poder ser útil à humanidade, estando no entanto ciente que este é um caminho que não tem fim à vista pois à medida que nos vamos instruindo, vamos tendo cada vez maior e melhor noção da nossa vasta ignorância.
Como definirias a escrita na tua vida: um passatempo, uma necessidade ou um acaso?
Para mim a escrita é sem dúvida uma necessidade.
Licenciaste-te em Psicologia. Esta formação teve algum impacto na tua escrita?
É curiosa esta questão, na medida em que a Psicologia foi desde cedo um caminho que pretendi seguir. Na verdade, desde tenra idade que tinha como característica o facto de ser introspetivo e curioso em relação a tudo que envolvia o ser humano, portanto a biologia, filosofia, psicologia, sempre foram, disciplinas que me suscitaram muito interesse, pois deram sentido a muitas perguntas que eu queria ver respondidas. Podia ter defraudado as expetativas na universidade, mas foi o inverso. O que aprendi foi algo incrível, na verdade, provavelmente a competência mais poderosa que retirei foi conseguir ter a capacidade para refletir, para pensar por mim mesmo, tendo a convicção que o caminho da sapiência é um puzzle que nunca termina de ser concluído e que quanto maior a humildade maior a predisposição para a aprendizagem.
Em 2015 lançaste a tua primeira obra poética, Viagem ao Âmago. O que te levou a iniciar esse caminho?
A certa altura, compreendi que a minha poesia poderia auxiliar outros humanos a interpretarem os adventos que a vida lhes impõe. A forma mais coerente de o conseguir é através da publicação de uma obra, na medida em que se existir pelo menos a hipótese de um exemplar que seja, auxiliar algum ser humano no seu propósito ontológico, então a minha existência não foi em vão, pois na essência da cooperação é que mora a harmonia da humanidade.
Em junho do presente ano, avançaste com a edição de um segundo livro, Um Livro Para Morar. Podes falar-nos um pouco sobre ele?
Com a obra Um Livro Para Morar anseio que as pessoas se sintam confortadas com as minhas palavras, que cada poema que consta no livro possa acomodar a alma de quem o lê, de tal forma que pretenda morar em cada verso.
O que te motivou a seguir este registo literário?
Em boa verdade não se tratou de uma escolha, na medida em que a poesia sempre foi algo que fluiu de mim com muita naturalidade. Quando pelos treze anos comecei a ler Fernando Pessoa; Bocage; Luis Vaz de Camões; Edgar Alan Poe; Cesário Verde; etc, senti de forma contundente que a forma como as inerentes palavras traduziam os respetivos pensamentos, faziam sentido orgânico do ponto de vista ontológico.
Como achas que será a reação dos teus leitores face a este trabalho?
As pessoas que lerem esta minha obra, serão confrontadas com questões dilacerantes umas vezes, esperançosos outras, enigmáticas também, portanto as reações poderão ser diversas e quanto maior a abertura mental do leitor provavelmente melhor a predisposição para compreender o meu pensamento.
Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado?
Quando me fazem essa pergunta, costuma citar São Tomás de Aquino que dizia “Toma cuidado com o homem de um só livro”, pois do ponto de vista utópico alguns livros parecem encerrar ensinamentos tão válidos que por si só nos conseguiriam elucidar para a compreensão do mundo, todavia sabemos que para podermos enfrentar as exigências e adversidades da vida, quanto mais ecléticos formos ou pelo menos quanto maior noção daquilo que ignoramos tivermos, mais assertivo será o nosso posicionamento em vários contextos. Sendo assim se pudermos ler obras com significado que nos façam refletir sobre questões de índole humanista, e aqui o espetro abre-se pois considero disciplinas como história; filosofia; psicologia; biologia; cosmologia; genética; astrofísica; etc, fundamentais para este âmbito, menos suscetíveis ficaremos ao fundamentalismo. Não obstante esta dissertação, posso referir alguns livros que são muito importantes para mim, tais como “mensagem” de Fernando Pessoa; “1984” de George Orwell; “A arte da Guerra” de Sun Tzu; “Crime e Castigo” de Fiódor Dostoievski; “Os Lusíadas” de Luís Vaz de Camões; “O mundo como vontade e representação” de Arthur Schopenhauer; “Assim falou Zaratustra” de Friedrich Nietzsche e muitos outros…
Se tivesses de escrever num género literário diferente, a qual desafio te proporias?
Na realidade eu também gosto de escrever ensaios e aforismos. Nesta minha obra “Um livro para morar” previamente a cada poema, consta um pequeno ensaio introdutório.
O que é que os leitores podem esperar de ti para o futuro?
Tudo e nada. Tudo, na medida em que escrevo sempre de forma genuína, logo verdadeira. Nada, uma vez que não posso prometer timings para a publicação de novas obras, ainda que constantemente participe em antologias e escreva para a revista literária Brasileira LiteralLivre, bem como para a Academia Independente de Letras de Pernambuco, da qual sou membro correspondente.
Descreve-te numa palavra:
Disruptivo.
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