Adelina Santos é natural de Jovim (Gondomar), onde reside e trabalha.

É portadora de uma deficiência visual, que lhe condicionou os estudos, tendo mesmo assim frequentado o conservatório de música na área do canto lírico, mas não terminou a licenciatura.
Tentou também frequentar um curso de história na faculdade de letras do Porto, mas viu-se obrigada a desistir.
Cedo se apaixonou pelas letras e pela música, mas a poesia é uma grande paixão, a par da história e das tradições dos seus antepassados.
Neste sentido escreveu o seu primeiro livro dedicado ao tempo dos seus avós, e um livro de poesia publicado em 2015 pela editora Lugar da Palavra.
Tem participado em diversas antologias poéticas principalmente com o grupo de Poesia da Beira Ria, Solar de Poetas e Amigos da Póvoa, Pastelaria Editores, Vieira da Silva, entre o sono e o sonho da chiado editores, colectânea mimos de maio entre outros, e vai deixando o que escreve na sua página do facebook (Tear de Sentidos).


Olá Adelina é um gosto poder conhecer-te melhor e apresentar-te aos seguidores deste espaço, para começar: Como que é que te iniciaste na escrita? Olá. Obrigada pela oportunidade de me dar a conhecer a um público mais alargado.
Em mim, o gosto pela escrita começou bem cedo, por volta dos 5 anos, porque ao conviver com meninas mais velhas que já andavam na escola e já liam e escreviam, eu sentia uma grande curiosidade de aprender a construir palavras e ler. Os meus pais vendo a minha vontade mandaram-me para uma sala de estudo onde facilmente aprendi a o alfabeto e a ler.
Quando aos 6 anos fui para a escola primária já escrevia perfeitamente e lia.
Infelizmente perto dos 7 anos, fui fulminada por uma meningite que me cegou e apagou da memória o que tinha aprendido.
Foi mais tarde, com 11 anos, ao frequentar um estabelecimento de ensino especializado para cegos que reaprendi a escrever e a ler através do sistema braille. Nesta escola retomei o meu gosto pela leitura e começou a crescer o fascínio pela poesia.
Apesar de a poesia ser para mim uma espécie de desabafo da alma, ou um meio de falar com as minhas sombras, foi com uma monografia que a minha escrita foi dada a conhecer pela primeira vez em livro.

Qual o sentimento que te domina quando escreves? Há sempre uma emoção diferente a fervilhar na mente e nas veias quando escrevo, porque o perfume de uma flor, um cantar de um pássaro, o sorriso, ou choro de uma criança podem levar-me a escrever. Mas a liberdade, a justiça e o amor, assim como as minhas conversas com o silêncio, talvez sejam os motivos dos meus poemas.

O que é que a escrita mudou em ti, enquanto pessoa? A escrita como disse, quase nasceu comigo, mas através dos meus humildes poemas conheci pessoas maravilhosas que me ajudaram a correr com alguns dos meus fantasmas e realizei alguns dos meus sonhos.

E enquanto escritora, o que tens aprendido? Não me sinto como escritora. Gosto de escrever, de partilhar as minhas emoções que tinjo na escrita, gosto que as pessoas comentem façam as suas críticas e desta forma vou crescendo e enriquecendo por dentro, voltando sempre à partilha.

Tens algum ritual de escrita? Não. Sinto muita necessidade de escrever, porque a escrita, o soltar as frases como aves é libertar de mim amarras, tristezas e alegrias que têm de ganhar asas. Mas só escrevo quando a vontade o exige.

Como definirias esta arte na tua vida? Assim como um pintor, ou um escultor dão forma aos sentimentos através do que pintam e cinzelam, eu tento pintar e cinzelar com as palavras o que sinto.

A escrita é para ti, uma necessidade ou um passatempo? Uma necessidade.

O teu primeiro livro publicado chama-se “Bocados de Mim”. Podes falar-nos um pouco dele? Bocados de Mim é exactamente o que o título diz. Bocados das minhas vivências, das minhas sensações, do que eu fui, do que eu sou.

Como surgiram as ideias para compor este livro? Como já contei, desde cedo que escrevo poesia e tenho muita coisa escrita. Um dia, na conversa com um amigo que também gosta de poesia e tem algumas coisas publicadas, ele pediu para ler alguns poemas meus e surgiu a ideia de publicar.

Quais os trabalhos que já realizaste no âmbito da escrita, para além deste título? Tenho publicado em diversas antologias de poesia, antologias de contos, e monografias.

Geres uma página “Tear de Sentidos”. Como vives o contato com o público? Este meu cantinho apenas serve para partilha do que escrevo, onde outros poetas podem publicar os seus escritos, mas poucos comentam o que é postado. Aliás, noto a falta de opinião e de troca de ideias tanto no meu tear de sentidos, como noutros espaços. As pessoas limitam-se a comentar: gostei muito, é lindo. Tudo muito vago.

A tua escrita é ficcional ou tem conotação pessoal? Penso que na escrita há sempre um pouco de nós. No meu caso, eu estou sempre retratada em cada texto, por muito que o tente disfarçar.

Gostas de ler? Consideras importante ler para se escrever bem? Adoro ler. Os livros são e sempre foram para mim uma companhia indispensável. Claro que a leitura é fundamental para quem escreve.

Como encaras o processo de edição em Portugal? Este é um assunto que daria muito que dizer. Há muita gente a publicar, muita gente com qualidade, outra nem tanto, mas só quem tem nome e já é muito conhecido é que tem direito a lugares de destaque nas livrarias, e as editoras não apostam em gente desconhecida. Acima de tudo existe o lucro.

Além da escrita, que outras paixões, nutres que te completam enquanto pessoa? O ser humano, a vida, a amizade, o amor, a família. Além disto, sou uma apaixonada pela natureza, por gatos, e pelas minhas colecções de cactos e suculentas.

Quais os temas que gostas de abordar quando escreves? A natureza, o sentimento humano, o silêncio.

Se só pudesses ler apenas um único livro para o resto da tua vida, qual seria o privilegiado? Leio muito e muitos livros me marcaram, mas li um que a história se desenrola na cidade do Porto e se identifica um pouco com o que gosto de ler: Meia‑Noite - ou o Princípio do Mundo, de Richard Zimler.

Pensas em publicar novamente? Presentemente tenho um segundo livro de poesia para ser publicado ainda este ano, mas ainda não está nada definido.

Se tivesses de escrever noutro género literário, a qual desafio te proporias? Tenho alguns romances começados, mas não sei se um dia me atreverei a dar-lhes voz.

Imagina a tua vida sem a escrita, como seria? Isso seria algo de sofrimento, um abismo onde eu sufocaria.

Apenas numa palavra, descreve-te: Sonhadora.



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SINOPSE
Adelina Santos perdeu a visão aos seis anos. Amante das letras e da poesia, em Bocados de Mim apresenta-se e revela-se com uma intensa fragrância lírica, onde as mãos veem, leem e são o ponto de contacto com o mundo que rodeia a poeta.